quinta-feira, junho 09, 2005

Victor e Raquel.

- Dói, não tá cicatrizado ainda. Precisa cauterizar.
- São bons tempos para mudanças.
- Não são. Estou enferma. Não vê?
- Não. não vejo. Onde está?
- Aqui, em minha pele, minha circulação.
- Mostre-me isso melhor.
- Mas está aqui, não está vendo?!
- Isso não é nada. Por que fez isso?
- Estava doendo.
- O que estava doendo?
- Você sabe, você que fez.
- Sei de nada. Pare de circunlóquios. Fale o que acontece.
- Acontece que você me machucou, e eu aprendi em um programa médico de TV que quando há uma dor no corpo, outra dor mais intensa, mais profunda, em outra parte do corpo, faz com que a primeira dor cesse.
- Hã... e aí quis cessar qual primeira dor?
- A sua primeira dor.
- Mas eu não lhe bati, nem machuquei. Fiz nada contra você.
- Pare com isso. Você sabe que fez.
- Vou pegar algum remédio.
- Só tem um remédio.
- Só mesmo, mercúrio-cromo é o melhor.
- Atenção.
- O que?
- Olhe para mim. Pense comigo para mim. Fale comigo. Preocupe-se com minhas coisas também, pelo menos uma quarta parte do tanto que eu me preocupo com as suas.
- Ah, desculpe criança. Mas você tem que entender como andam as coisas.
- E você tem que me incluir nessas coisas.
- São coisas desagradáveis. Não quero mistura-la.
- Posso faze-las agradáveis para você, meu bem.

Victor abaixa a cabeça e dorme. Raquel pensa em segredos mofados pelo tempo. Devia ter contado antes. Devia ter se imposto. Devia ter tido o filho daquele homem que dorme depois dos coitos. Pelo menos assim ela sentiria que sempre haveria um pedaço dele consigo. Saído de dentro dela. Pedaço misturado deles. Mais importante, por ser dele.

Ps: Iniciei conto novo no Tratado de Desobediência : Hotel Danúbio. Não sei se vou conseguir terminar. Os dias descomprometidos e de acesso livre acabaram. Mas está lá.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

melhor que o mão.

8:28 AM  

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