segunda-feira, junho 06, 2005

O Sr. Gregor Samsa e os buchas serviçais.

E o Senhor Gregor Samsa, do Kafka, que foi criado apenas para dizer, através da metáfora de sua existência, que as baratas são seres indispensáveis para a manutenção da natureza, ao funcionamento sistemático dela. Afinal de contas, segundo Kafka e a natureza, as baratas comem os dejetos, os restos podres de alimento, e se sentem preenchidas por eles, não felizes, satisfeitas. Igualmente aos operários, aos buchas, e aos caixeiros-viajantes, como Samsa, que servem suas forças de trabalho para receberem apenas o suficiente de manterem suas vidas, e, no caso de Samsa, mostrar ao pai seu ordenado do mês, poder pagar as aulas de música da irmã que sonha com violino, se sentir repleto com isso enquanto os detentores das forças de trabalho ganham muito mais, e detêm muito além. As baratas são para a natureza igual os operários e os demais buchas são para o sistema: seres abjetos que se realizam com as dejeções dos ‘entes superiores’. Lembrem-se da parte onde a irmã de Gregor leva para ele um pedaço de queijo que fora rejeitado dias antes, pelo Gregor ainda humano, porque já estava um tanto apodrecido, e então, como barata, Gregor saboreia prazenteiramente seu pedaço de queijo podre. Assim são os buchas artífices.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

lúcido!
ótima leitura.

9:20 AM  

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