terça-feira, março 22, 2005

Fascínio, palavras, demência, palavras.

Samba; eu sambo; as palavras sambam, esperneiam doentes. Eu quero palpa-las, mas não posso assim, tão fácil. Eu entrevejo o horizonte de letrinhas miúdas em uma folha de papel amarelo, letrinhas miúdas, letrinhas sisudas. O papel aceita tudo, o profeta disse-me um dia; nem tanto, retorqui com ligeira agonia. Eufórico; ele estava eufórico, as condições nunca foram tão dignas. Meu contato com o mestre foi breve, talvez suficiente, quem sabe inevitável. Não estou eufórico, sou uma alegoria, uma ilusão. A avenida se enche de papel picado, papel picado cheio de letrinhas; letrinhas que dizem tudo, letrinhas que se completam, letrinhas que faltam. O pensamento é multidimensional; o papel é unilateral, não permite invenção, não permite gritaria, não permite euforia, tampouco dislexia. Onde está ancorada a vanguarda? Eu quero toca-la, ouvir sua algazarra. Não posso, ela dista demais de mim, e não a encontro, não hoje, não ontem, não amanhã, talvez nunca.