sexta-feira, maio 13, 2005

Verdade das letras.

Minha odisséia pelo mundo exótico, opulento, garboso e suntuoso da literatura assume, a cada nova curva, uma perspectiva mais assombrosa. Comecei por avenidas largas, com canteiros arborizados, bulevares ostensivos, logo fui à auto-estrada, pista-dupla, pista-única, sertão, feiúra, e fui assim declinando por veredas cada vez mais inóspitas. Entretanto, a imersão profunda no mundo da literatura fez com que eu começasse a ver beleza nos recantos e vielas mais hostis, pelos quais circulo no presente momento. Essa viagem me é cansativa, mas aprendi a enxergar o que a maioria não enxerga, começo a entrever raios de beleza no sertão seco, doído e ensolarado das exegeses, das glosas, das enciclopédias monstruosas - essas são as piores de todas; apregôo-me uma obrigação imanente de deglutir toda esta parte cáustica do mundo das letras; quero ver a literatura, um dia, com os olhos mais minuciosos e dissecantes que o mundo já teve. Mas dói, tudo isso dói demasiado em minhas órbitas já um tanto infligidas por minhas próprias verdades, pela verdade que me circunda impudente, pelo incômodo que me causa a hipermetropia, e agora, também, pela verdade que as letras estão a me contar.