terça-feira, maio 10, 2005

Só quem sabe sobreviver deve entender.

As vidas se completam vazias, mas como é possível algo vazio completar outra coisa vazia? Não há explicação convincente, mas as vidas das pessoas completam outras vidas, isto é verossímil. Há uma necessidade frenética de sermos tocados, amados, e isto é simples? Não, não é nada simples. Nessas mesuras, ou necessidades de reverências humanas, é onde reside o absurdo. O absurdo é palpável, é comum, é simplório, tanto quanto vocês nunca imaginaram. O absurdo consiste em chegar em casa todos os dias após o trabalho e encontrar a televisão ligada em um programa onde um homem diz que é preciso orar para Deus. O absurdo pode ser um jornal que traz a manchete de uma mulher que se suicidou em frente a sua filha. O absurdo pode ser alguém ser amado.

E os jovens? Que se sentem protagonistas do mundo, heróis da salvação e redenção universal. De onde eles tiram tanta utopia? Eu queria saber, pois meus tempos de jovem estão se esvaindo, e ainda não encontrei respostas. Já não posso mais passar semanas à toa bebendo e tendo conversas ontológicas com meus amigos jovens. A cumplicidade é finita. E sua finitude consiste em um outro absurdo. Por que algo que pode ser tão efervescente é finito? Será que se não fosse finito, seria efervescente? O que é sereno? A maturidade? A lucidez? Não sei, ainda não os atingi. Mas devem ser. Sabem?
São perguntas-sem-respostas que somente quem sabe sobreviver sente a verdadeira explicação.