domingo, maio 01, 2005

Ensaio do caminho com curva.

Agora vou me enveredar um pouco pela pieguice, pela sensibilidade diligente e enfadonha. Eu achava que era fácil viver, mas não é; tudo bem que isso é pensamento de garoto bobo, não faz mal, precisa ter um começo. Descobri isso quando li A idade da razão, de Sartre. A liberdade é uma coisa intrincada, mistura-se demasiado emaranhadamente com a existência – droga, estou perdendo o rumo, mas vejamos em que vai dar. Camus, entretanto, é mais didático que Sartre por essas veredas. Ele passa uma mesma questão, de forma mais digestiva, mais apraz também. Camus é como um analista, ou um incitador de auto-ajuda. Sartre foi um analista complexo, dificultava demais as coisas, as relações, os questionamentos. A liberdade é sim algo quimérico. Ao passo que o condicionamento que recebemos ao nascer já nos implica a ausência de liberdade. A liberdade absoluta seria nascer e ser abandonado pela mãe a mercê da natureza; só que pensando por outra perspectiva, a mercê da natureza é outro fator condicionante. Ela implica em limitar sua liberdade. Liberdade absoluta então seria nascer e ser largado no universo sideral. Mas e a ausência de oxigênio? Implicaria também na ausência de liberdade. Como ser livre se o homem é condicionado a respirar oxigênio, e lá, onde não há gravidade, nem leis físicas terráqueas, não há oxigênio. A antiliberdade é um atributo inerente ao homem. Este nasce fadado a não ser livre. E esta não-liberdade-obrigatoria incitou o homem a desenvolver mecanismos conseqüentemente limitadores nas esferas políticas, sociais, e em toda sua forma e estrutura de vida. A liberdade não existe, é mais uma utopia, mas talvez a utopia mais inatingível de todas. E isso ainda não acabou. A ausência de liberdade segue a linha de uma espiral, começamos a não ter liberdade no universo sideral, depois na natureza e leis físicas terráqueas, depois no momento que nascemos, e isto tudo nos remete a infringir a liberdade em todas as esferas de nossa vida social, criada à imagem e semelhança das leis físicas e universais às quais estamos intrisecamente submetidos.

E Isso tudo não passa de diário de vida. Minhas idiossincrasias para com essas leituras estão sobrepondo a realidade, a realidade tangível. Minhas idiossincrasias estão cada vez mais capazes de formular um outro mundo, uma outra realidade à parte de toda esta realidade tagarela. A realidade verdadeira me açoita, me inflige. Não dá mais pra protelar a tutela da minha realidade, ela deve ser encarada e vencida.