sábado, abril 30, 2005

O caso da Madalena.

Só se ouvia gritos, vozes, e a celeuma;
O céu estava negro chumbo, denso;
Os pássaros gorjeavam canções lúgubres;
Tudo adivinhava, e a agonia se avizinhava,
Tomando partido através dos silvos do vento insalubre.

Não fez muita diferença;
João resignou-se como quem está disposto,
Disposto ao inferno enfrentar;
E ele viria sim, não falharia em despertar.

Veio com Madalena, dentro de seu vestido vermelho;
O decote lhe mostrava as comissuras íntimas dos seios;
João nervoso ficava, só de assim ver seu fogo;
Madalena era mulher matreira, velhaca sutil e safada.

Veio Madalena para João contar,
Que dele não queria nem mais o olhar,
E não precisava gritar, bater, e nem chorar,
Pois sua atitude em nada ia mudar.

João explodiu, e a cólera lhe arrebatou,
Madalena temeu, fremiu, mas de nada adiantou,
Pois João mesmo assim a faca lhe penetrou.

Madalena era vermelha, com o vestido vermelho,
O sangue era rubro, e no vestido encontrava seu espelho,
Escorria, jorrava, e Madalena agonizava,
João não entendia, porque aquilo fazia.

Madalena por fim, algumas palavras ainda cuspiu,
Disse que João era um porco, abjeto, nojento e vil,
Disse também que nunca o amara,
E que ela sempre o enganara,
João mais irado e triste ficou,
E a faca mais profundo no peito lhe enfiou,
Madalena no leito viscoso da morte, chorou,
E no último suspiro ainda frisou,
Que Adonias fora quem sempre amou..

Adonias era amigo do João,
Amigo do João bundão,
O João bundão que de Madalena furou o coração.

João percebeu então,
Que seu mundo havia ficado sem chão,
Sua agonia toda tinha sido em vão,
E que Adonias não ia matar,
Ia matar agora,
Era o bosta do João.