sábado, junho 11, 2005

Novo blogue.

Amigos, vou entrar num turbilhão louco e vai ficar difícil postar. Abri um novo blogue: Diário de Viagem. Acessem. Abraços.

sexta-feira, junho 10, 2005

Vou partir.

Vou mudar o rumo dos meus dias. A aurora não virá me espancar mais ao meio-dia, talvez agora será mais sutil. O vento que divisa meu cabelo, em Dezembro, será rigoroso em castigar-me. Não sei se haverá pessoas querendo me agradar. Pessoas que façam meus almoços prediletos. Cães que insistem em dizer que me amam, mesmo em seu idioma inintelígivel para mim. Terei de ser um garoto pesado, carregando muitas bugigangas banais. Os lugares, não sei ainda quais serão, mas hei de visitá-los. Mesmo que seja o lugar-nenhum de dentro de um quarto. E quando ver as doces mademoiselles (idéia de viagem transfigurada) caminhando pelos bulevares milenares, só poderei enxergar Ela, em minhas pupilas mentirosas, Ela estará em cada esquina. Ela que esqueci o aniversário. Ela que um dia me chamou pra vida, pegou em minha mão e disse cheia de ternura: "vem conhecer o melhor caminho". Cândida, Columbina, você me faz, me fez, e me fará falta. Achei que Ela não me recobraria explicações novamente, muito menos assim, às avessas. Tenho pressa, mas tudo há de ser feito com calma. "Vá com calma, e depois falamos quando vier me ver", foram Suas últimas palavras ao telefone.

Germens pululantes.

Uma luz cintilante atravessa o quarto de Diógenes, que pula assustado. Pequenos germens começam a pulular dentro do feixe. Os germens crescem rapidamente. Diógenes somente observa. Tenta ser frio. Manter o controle. Mas não dá. Os germens começam a puxa-lo, como quem quer indicar um caminho. Diógenes se sente à vontade. Cede. Segue a seqüência deles. abrem uma porta atrás das cortinas. Diógenes se assusta. Nunca tinha aberto as cortinas para ver a janela. E agora, aqueles germens saídos da surdina abriam-lhe as cortinas. Há muita luz, é o início do raio intenso. Diógenes tapa os olhos. Tenta enxergar. Não consegue. Os germens se fazem numerosos. Diógenes não se assusta. Esconde o entusiasmo. Tenta ser frio. Consegue. Os germens são pequenos. Seres em forma de couve-flor, porém marrons, pequenos, germinantes.

Dentro do mundo do feixe luminoso, germens brotam do chão. Outros urdem roupas de lã. Alguns esperneiam como que tresloucados. Diógenes permanece em sua atitude inerte. Só estuda o ambiente, os seres marrons. Sente um comichão no estômago. Quer leite. Leite. Leite. Pede, mas o que pronuncia é um idioma ininteligível. Os germens também parecem não compreender. Diógenes começa a se desesperar. Grita. Clama. Pede. Chora. Quer leite! Os germens param suas atividades. Pegam na mão de Diógenes, todos se amontoam em torno dele e o mergulham em uma caldeira. Diógenes se esquece de tudo e acorda melado.

quinta-feira, junho 09, 2005

Victor e Raquel.

- Dói, não tá cicatrizado ainda. Precisa cauterizar.
- São bons tempos para mudanças.
- Não são. Estou enferma. Não vê?
- Não. não vejo. Onde está?
- Aqui, em minha pele, minha circulação.
- Mostre-me isso melhor.
- Mas está aqui, não está vendo?!
- Isso não é nada. Por que fez isso?
- Estava doendo.
- O que estava doendo?
- Você sabe, você que fez.
- Sei de nada. Pare de circunlóquios. Fale o que acontece.
- Acontece que você me machucou, e eu aprendi em um programa médico de TV que quando há uma dor no corpo, outra dor mais intensa, mais profunda, em outra parte do corpo, faz com que a primeira dor cesse.
- Hã... e aí quis cessar qual primeira dor?
- A sua primeira dor.
- Mas eu não lhe bati, nem machuquei. Fiz nada contra você.
- Pare com isso. Você sabe que fez.
- Vou pegar algum remédio.
- Só tem um remédio.
- Só mesmo, mercúrio-cromo é o melhor.
- Atenção.
- O que?
- Olhe para mim. Pense comigo para mim. Fale comigo. Preocupe-se com minhas coisas também, pelo menos uma quarta parte do tanto que eu me preocupo com as suas.
- Ah, desculpe criança. Mas você tem que entender como andam as coisas.
- E você tem que me incluir nessas coisas.
- São coisas desagradáveis. Não quero mistura-la.
- Posso faze-las agradáveis para você, meu bem.

Victor abaixa a cabeça e dorme. Raquel pensa em segredos mofados pelo tempo. Devia ter contado antes. Devia ter se imposto. Devia ter tido o filho daquele homem que dorme depois dos coitos. Pelo menos assim ela sentiria que sempre haveria um pedaço dele consigo. Saído de dentro dela. Pedaço misturado deles. Mais importante, por ser dele.

Ps: Iniciei conto novo no Tratado de Desobediência : Hotel Danúbio. Não sei se vou conseguir terminar. Os dias descomprometidos e de acesso livre acabaram. Mas está lá.

quarta-feira, junho 08, 2005

Coisa de um lunático.


O céu é vazio. Caminho com o vento batendo e divisando meu cabelo grisalho. É domingo e papeis se amontoam nas ruas do centro. Geralmente às sextas-feiras há liquidações das lojas. Que picam e despejam toneladas de papeizinhos. Gosto de caminhar por essas ruas tão tumultuadas durante a semana, e tão cheia de vácuo nos finais. A sensação cintila o opaco. As vestes completam em meu corpo espaços que nunca serão preenchidos. Pisoteio insetos ignóbeis. Como posso não sair do lugar? Questões sem fim são como ruas vazias de domingo. Tristes e com grandes espaços a serem percorridos. Espaços que não inspiram. Espaços que não latejam. São mornos estáticos.

Mais besteira sem família.

Um mundo cheio de atributos se avizinha da realidade; ele parece um tanto distorcido, no entanto, me atrai como nunca me senti atraído por apanágios.

As pessoas mais jovens da minha geração não se preocupam com nada. Não que ficar preocupado seja uma coisa positiva, no entanto, algo deve ser feito e encarado. Com o avanço da tecnologia e das liberdades: ideológicas, sexuais, políticas e etc., os jovens querem mais gozar e relaxar do que o enfrentamento com as contingências duras de uma vida socialmente humana – a vida que hoje parece ser a mais verdadeira por ser a mas aceitável. Isso é principalmente atribuído aos jovens burgueses. Grandes epicureus, partidários do deus 'Dioniso'. Que lástima será nosso futuro se dependermos deles. Os yuppies sobrevivem depois dos Abertos Oitenta.

Puxa vida, Puta merda!

Até cinema já estão amontoando em carrinhos de compras de supermercado, como se fosse algo assim, e isso é altamente pernicioso. Atenção gente 'civilizada'. : "Promoção Yahoo! Batman Begins 2ª fase: 1 ano de cinema grátis!"

segunda-feira, junho 06, 2005

O Sr. Gregor Samsa e os buchas serviçais.

E o Senhor Gregor Samsa, do Kafka, que foi criado apenas para dizer, através da metáfora de sua existência, que as baratas são seres indispensáveis para a manutenção da natureza, ao funcionamento sistemático dela. Afinal de contas, segundo Kafka e a natureza, as baratas comem os dejetos, os restos podres de alimento, e se sentem preenchidas por eles, não felizes, satisfeitas. Igualmente aos operários, aos buchas, e aos caixeiros-viajantes, como Samsa, que servem suas forças de trabalho para receberem apenas o suficiente de manterem suas vidas, e, no caso de Samsa, mostrar ao pai seu ordenado do mês, poder pagar as aulas de música da irmã que sonha com violino, se sentir repleto com isso enquanto os detentores das forças de trabalho ganham muito mais, e detêm muito além. As baratas são para a natureza igual os operários e os demais buchas são para o sistema: seres abjetos que se realizam com as dejeções dos ‘entes superiores’. Lembrem-se da parte onde a irmã de Gregor leva para ele um pedaço de queijo que fora rejeitado dias antes, pelo Gregor ainda humano, porque já estava um tanto apodrecido, e então, como barata, Gregor saboreia prazenteiramente seu pedaço de queijo podre. Assim são os buchas artífices.

sábado, junho 04, 2005

Indicação.

Amigo Dewizqe, não sei se já conhece este cara: Mão Branca, mas queira fazer o favor de conhecer. Creio que vai gostar.

sexta-feira, junho 03, 2005

Reverência.

Cecília Giannetti me fez compreender a verdade do coito (ato físico em si) pelo prisma feminino. Nunca havia entendido como agora penso que passo a entender. - Trecho de um conto (dela) publicado em http://www.paralelos.org/out03/000061.html.

"A agonia do homem é cavar fora dele, enquanto a mulher cava ao mesmo tempo em que é cavada. Ela ajuda na sua escavação, o homem cava e ela precisa ir junto ao próprio fundo. Ele revela a anatomia interna que ela imagina ter, um pintor que reproduz paisagens sonhadas em segredo, aparelho de ultra-sonografia extremamente anatômico que não mostra a paisagem lunar feminina em uma tela de computador vigiada por médico. Mas provoca reações e mapeia regiões de sentidos, impossíveis de serem captadas por outra máquina".

quinta-feira, junho 02, 2005

Impostor documentarista.

Impostor documentarista banal/sarcástico/visceral/transcedental/verdade-bonito.
Esses dias conversei com o Paulo Tatu, que me contou sua história. Não sei se interessa muito, mas o negócio é o seguinte: Ele é um velho de cinqüenta e três anos, que bebe desde os sete. E com orgulho. Perguntado sobre sua iniciação, disse-me sem desfaçatez: “Quando criança, sentia dor nos dentes, pedi pra mamãe que fizesse algo. Deu-me uma solução ‘fedendo’ a álcool, me mandou bochechar pra depois cuspir. Porra, mas aquilo me pareceu bom, aí eu bochechei e engoli, reah, e foi louco, desde então nunca mais parei”.

Sim, seu Paulo Tatu é mais um dos personagens dessa sub-vida que vivo e sobrevivo com descaramento todos os dias.

Eu vejo filmes documentários, e eles fazem bonito a favela, transformam em tragédia grega valorizada as estórias de gente que nunca saiu daquele inferno, gente que foi concebida, nasceu, cresceu, ‘bohemiou’, bebeu, fumou, lutou, enxugou, matou e morreu por ali. É uma nudeza factual sem precedentes, e isso é a pauta, o que mais impressiona.

Não tendo opinião formada sobre esses arautos da informação periférica, marginal, ou submundesca, quer como seja, eles me mostram o mundo das ‘trevas’ com lirismo crú, dolorido. É inaudito pra vocês? Pra mim não, pois enxergo essas entrelinhas nefandas até no embusteiro programa da Xuxa (ela tá até no dicionário do “Palavra” da Microsoft), e eu absorvo, claro, é uma obra de arte, verossímil ou não, coerente ou não!. Quer discutir sobre a coerência de todas as obras de arte da humanidade?!! Então se prepare. Brincadeira.

Documentaristas, regulamentados ou não, com festivais representantes ou não, vocês estão transcendendo seus domínios, suas necessidades, suas propostas e seus objetivos. Estão doendo mais do que deveriam, estão perturbando mais do que cegos cacofônicos do interior desorientados pelas vitrines (inclusive vivas) das urbanóides, estão batendo no peito e fazendo sentir no fígado com a bílis mais cáustica de todas. E eu gosto de saborear o aclamado “spleen” do século dezoito/dezenove, bílis pra nós enfermos. Vão em frente e fodam com o universo, fazendo filme daquelas pessoas que nem sabem se vivem como deveriam viver. E isso talvez seja viver.

Tiago Muzulon.